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O caderno da península é uma ideia não muito antenada aos tempos atuais.

Já começa pelo meio de comunicação escolhido. Um blog? Quem faz blog hoje em dia? Ou melhor: quem lê blog? Um projeto que parece um tiro no pé.

Parece. Mas não é. Porque tiro no pé dói demais, é atitude que vai contra si mesmo. E o caderno da península tem sua origem na minha própria vontade. Visa um objetivo que, ao contrário, vai a favor de mim mesma. Certa vez Contardo Calligaris disse que escrever sua coluna semanal no jornal transformou sua vida. Imagina só, ter que elaborar um texto baseado em seu próprio cotidiano, com regularidade semanal, por mais de 20 anos. Ou seja, esse ofício fez a vida dele mais interessante (mais do que já era, claro). Isso já explica um pouco o que quero dizer e porque criei um blog em pleno 2023. Trata-se do poder da escrita como forma de construir o próprio caminho.

Claro que essa função seria cumprida se eu escrevesse somente em folhas de papel. Mas, fazendo uma analogia ao que disse Sérgio Sampaio numa de suas músicas, “um livro de poesia na gaveta não adianta nada”. Decidi, dessa vez, não deixar tudo guardado. Na esperança de que seja algo bom, para uma pessoa que seja, além de mim.

Se a escrita é o meio, o propósito é desenvolver e construir o próprio ser. Essa é a busca. Cabe explicar que ser, nesse caso, vai bem além da profissão ou conquistas materiais, ou mesmo experiências, como se costuma entender. Nada tem a ver com o ser que se manifesta no ter e no próprio ego.

Nossas escolhas estão cada vez mais sendo influenciadas por postagens e algoritmos que nos estimulam a parecer mais do que ser, e infinitamente nos incentiva ao querer o que não se tem, ao que é do outro, à experiência alheia ou à ideia de outra vida. Moramos, assim, na insatisfação que não cessa e em um futuro que não chega. Como se a vida fosse um eterno esperar pelo dia em que nos sentiremos satisfeitos e completos como pessoas. De preferência, melhores do que aqueles que podem nos observar, para que também sejamos admirados. Ou seja, um ciclo voltado para o externo e para a construção de uma imagem que não nos reflete, e que mantém toda uma engrenagem. Vamos falar dela por aqui.

É um papo meio pesado, admito, mas eis que vem a presunção desse blog: o caderno da península é como um livro que tem como função nos dar um alívio nesse sistema que nos desconecta de nossa essência. Uma ferramenta para auxiliar quem se arrisca a nadar contra a maré para ter mais consciência, mais presença, para deixar de ser ilha e ser península, pensada aqui como um símbolo de reconexão consigo mesmo. Quanto mais resgatarmos nosso eu, mais criamos vínculos reais com os outros, com o todo. É o que acredito.

Resumindo, é uma pequena utopia. Até porque, quem sou eu na fila do pão. Ninguém importante. Mas acho que está na hora de sermos utópicos. O mundo está complicado demais e qualquer mudança nos parece inalcançável, por menor que seja. Talvez seja preciso acreditar no impossível, para chegar no possível.

Se você também acreditar, te convido a acompanhar o CDP, seja muito bem-vinda ou bem-vindo 🙂

Simone.